quinta-feira, 29 de abril de 2010

Tutorial: Lave a louça feliz

Comece a lavar por volta das 8 da manhã, coloque o pano de prato o mais longe possível, procure chamá-las de “vasilha”, isso diminui o grau de hierarquia.
Faça uma pequena análise de tudo que tem nesta “pilha” a sua frente. Comece a lavar as vasilhas maiores, ocupam a maior área, pois da a sensação de acabar mais rápido (reserve as panelas). Os pratos são uma boa pedida, coloque todos de preferência na vertical na janela mais próxima que estiver batendo o sol de 8:07.

Ao colocar os copos para escorrer, e muito importante deixá-los inclinado com uma pequena abertura na parte inferior, atenção, não colocá-los de boca para cima, acumula água no fundo. Lavar cada talher separadamente, começando pela colher de arroz, a concha do feijão, e assim gradativamente ate chegar na colher de café. Não faça cara feia para as panelas, isso pode dificultar sua relação com elas.

Antes de secar e guardar vá pegar o pano de prato, e na volta abra todas as portas dos armários, aproveite este momento único.

Use o mesmo critério de tamanho para pegar as vasilhas da janela, não só pra ter a boa sensação de terminar mais rápido, como também estão mais secas. Não tente pegar muitas vasilhas de uma vez, causa desconforto, podendo prejudicar toda felicidade depositada. Guarde cada um em seu devido lugar cantando um “músiquinha” sem letra e que você também não conheça. Antes das panelas, lave a pia e tudo mais que precisar, seque as panelas e guarde-as.

Seque as mãos com um sorriso, coloque o pano de prato no lugar de costume.

Enfim feche os armários com aquela cara de dever cumprido, respire fundo e saia da cozinha.

Qualquer dúvida, favor consultar seus instintos. Espero ter ajudado.

José Villaça

domingo, 18 de abril de 2010

Bolsas prontas

Me perco entre bolsas, dias e o que esqueci.
Dias de 24 ou 36horas, não me lembro quando dormi.
Ou horas que parecem dias, ou dias com horas erradas.
Quando o dever é calar quero falar, desabafar, dividir, contar e impor.
Quando devo falar desejo esquecer de existir,
desejo que esta hora dure um dia ou uma vida.

Eu disse que me construí de amor,
mas hora vejo que também tenho um pouco de inocência ou ignorância,
um pouco do que já fui, medo.
Não de ficar sozinho, ou ser só um,
mas medo de não ser feliz.

Medo de preparar uma bolsa e não colocar parte do meu dia,
e depois esquecer de parte.
Eu quero a parte inteira, quero que leia isto,
porque não quero mais falar.

Não consigo deixar aquele liquido salgado, que chamam de lágrimas, e eu chamo de saudade sair.

Quero, sinto, esqueço, rolo, pulo e finjo de morto;
finjo de vivo também.
Aceito comandos do coração, outros chamam de razão,
mas se isso fosse, seria mais fácil.

Respiro fundo, imagino e fecho os olhos,
e quando abro estou dentro deste ônibus.
Cadê você que sempre esteve do meu lado?

Olha, nem um dia, ou nada perto de tudo.
Sei que tudo fará sentido na hora certa,
que esta hora chegue,
não consigo mais acertar horas erradas.

Certo de que o melhor não é o contrário,
e saber que dou meu máximo é o que me conforta.

A sincronia só existe no amor, lembra?
Eu não esqueço.
Vivo acreditando em mim, cheio de altos e baixos.

Já tenho que descer,
colocar minha bolsa nas costas,
esquecer e viver horas ou passar por horas como definir.
Dentre tantas escolhas isso é o mínimo.
Isso é TUDO.


Mar/2010

sábado, 17 de abril de 2010

Mês da Mentira

Belo Horizonte, 10 de Abril de 2010
Mês da Mentira
Desmatam tudo e reclamam do tempo, que ironia, já escutei em uma música.
“Nossa atitude pode mudar o mundo”, e o mundo quer? Não é o mundo responsável por nossas atitudes?
Pilhas reciclem!
Reciclem pilhas de madeiras clandestinas ou mesmo aquelas preservadas. Preserve o verde, preserve o vermelho-fogo das matas nos olhos daqueles que com um sorriso amarelo de “a minha empresa faz”, faz novos grãos, novos pães, faz mais dinheiro cultivando a falta de sabor em menos tempo e em frutos maiores.
Matem seus netos. Não de desgosto, mas sim de um sofrimento silencioso, repleto de tudo que ele nunca viu e verá, com o calor que você ajudou a criar, e uma chuva de valores que não pode ser prevista.
Crie a tecnologia do ano, para lembrar a sua existência como um nome a mais em relatórios automáticos do seu notebook.
Envolva sua ampla rede de “amigos” com o desejo de sentir um cheiro. Não esqueça uma frase de impacto, para toda sua lista pensar profundamente que não te conhece men um pouco, e que aquilo e reflexo do que você nunca vai viver.
Escreva em siglas, contemple a velocidade. Estude enquanto toma café gráficos e as notícias do dia, atualize-se e leia lembretes periodicamente e some todo tempo que ganhou ao que você deixou de dormir, e veja que amanhã pode mais, que está pouco, que ainda não superou seus limites cardíacos.
Meu coração ainda bate, que bobagem! Hoje já existe cura pra isso.
Cura para saudade de um desatino de ser gente, de poder escolher mudar e rumar para bem longe, deixando no rastro mais saudades, e assim criar um ciclo daquilo que instiga e é invisível, aflora sentimentos e recomeça.
A falta da procura do humano provocam lágrimas insalubres, atos falhos ou mau calculados.
A falta de conceitos próprios criam pré-conceitos: Crias previsíveis, preocupadas com os pensamentos dos próximos e perdendo a personalidade se tornam frágeis, dignas de dó.
Porque não errar? Porque não ser imprevisível?
O erro já foi virtude humana, agora é o que destrói a humanidade.


José Villaça
10/04/2010